As coordenadoras do SAS Brasil Sabine Zink e Adriana Mallet conversaram com a Rádio Bandeirantes, na noite da última sexta-feira (10), sobre o projeto de enfrentamento do coronavírus com o uso da tecnologia da telemedicina. A entrevista, conduzida pelos jornalistas Guilherme Cimatti e Bruna Barboza, foi veiculada no programa RB News. “Nós estamos garantimos o atendimento médico sem que as pessoas precisem sair de casa”, contou Sabine. “Levamos para comunidades carentes a tecnologia necessária para que as pessoas tenham a consulta através do próprio celular, conectando-se com a nossa equipe de médicos”, disse Sabine, que é diretora do SAS Brasil.

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Sabine lembrou, durante a entrevista, que a demanda de atendimentos não precisa estar relacionada necessariamente à covid-19. “Entendemos que essa solução agrega valor porque a pessoa fica em casa, evita uma contaminação desnecessária e, caso exista indicação de ir a um hospital, nossa equipe médica faz a recomendação para que ela de fato vá”, disse. Adriana lembrou que na maior parte dos atendimentos já realizados, o problema de saúde dos pacientes foi totalmente resolvido na teleconsulta, o que significa que elas deixaram de correr o risco de contágio em um posto de saúde ou hospital. “Só vai para o hospital quem precisa”, ressaltou Sabine.

Na entrevista, Sabine lembrou que as populações mais desassistidas no aspecto da saúde estão nas regiões carentes de grandes cidades. “Estamos focando em São Paulo pelo risco e pela vulnerabilidade de pessoas que moram em regiões menos favorecidas”. O trabalho começou a ser realizado na comunidade Jardim Colombo, na favela de Paraisópolis, Zona Sul da capital paulista. Ela mencionou ainda o desejo de expandir os atendimentos via telemedicina para mais comunidades. “Essa é a vantagem da telemedicina: a gente pode chegar a qualquer lugar a partir da mesma tecnologia”, disse. Nesta semana, o projeto bateu 50% da meta da campanha de financiamento coletivo.

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As coordenadoras do SAS Brasil lembraram que a consulta via telemedicina, em prática regulamentada pelo Ministério da Saúde para o contato direto entre médico e paciente no enfrentamento da epidemia de coronavírus, ocorre de forma similar à consulta presencial. “O médico faz uma chamada, envia o link para o celular da pessoa e faz uma chamada de vídeo”, contou. “A interação com o paciente é normal, como se fosse num consultório: o paciente vai contando as queixas e o médico conduz a consulta”. Ela também ressaltou que o contato inicial com o paciente ocorre de forma simplificada, com o agendamento realizado pelo WhatsApp. “Em caso de necessidade de receita médica, isso também é feito online, temos uma tecnologia para isso”, ressaltou Sabine.

Atendimento presencial

O SAS Brasil já está em contato com líderes do Jardim Colombo para ter também uma equipe em solo, “tanto para garantir o atendimento médico presencial, quando for necessário, como equipes com técnicos de enfermagem ou enfermeiros com equipamentos que transmitem informações relevantes para a consulta”, contou Sabine à Rádio Bandeirantes. Com esses equipamentos, já adquiridos, será possível medir a pressão arterial, a frequência cardíaca, o nível de saturação de oxigênio, entre outros indicadores que podem ajudar o médico na outra ponta, ligado à tecnologia.

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“O SAS Brasil está olhando para algo complementar às necessidades básicas”, lembrou Adriana. “Crianças continuam tendo diarreia, as pessoas continuam tendo conjuntivite e em muitas situações a gente consegue evitar que a pessoa vá ao médico”, explicou. Nesses casos, em que evita-se a ida a um posto de saúde, Adriana conta que o SAS Brasil conseguiu resolver a demanda prescrevendo medicação, mantendo diálogo com a unidade de Saúde local e com farmácias. “Quando você atende uma criança com diarreia que mora em uma casa com mais 10 pessoas, você evita que ela e o pai vão ao hospital, você evita que eles tragam o vírus para casa e, se estiverem contaminados, você evita que eles levem o vírus. Esse é o propósito do projeto”.

Em um momento emocionante da entrevista, Adriana contou de um atendimento que realizou com uma paciente cuja filha não queria levá-la ao pronto socorro porque achava que o que ela estava tendo era uma crise de ansiedade. “Ela pediu consulta para buscar acalmar a mãe e quando eu fiz a consulta, ela estava com uma arritmia…”, conta “Muita gente fala: ‘Como é que você diagnosticou uma arritmia à distância?’ Quando a gente atende à distância, faz algumas coisas criativas: falei para ela colocar a mão no pulso da mãe e, cada vez que sentisse o batimento, falasse ‘tum’. Ela falava ‘tum, tum-tum, tum’ e deu para perceber. Eu ‘digitalizei’ o batimento cardíaco e falei: ‘Sua mãe está com uma arritmia e precisa ir para o hospital’. Ela de fato estava e precisou ser internada para fazer a reversão da arritmia”.

“Por outro lado, atendi uma família que, num dia, pai e mãe estavam doentes, com sintomas bastante característicos da covid-19”, relata a médica. “Orientei para que não deixassem os filhos saírem de casa por conta do risco”. Mas no dia seguinte,  a criança começou a ter febre. “Eles estavam saindo já para o hospital e a mãe resolveu me ligar. Fiz a orientação, consegui acalmá-la e explicar que ela tinha menor risco, o que não é óbvio para pessoas de baixa renda. Fiquei muito feliz dessa confiança”, contou Adriana.

Ao ser indagada sobre as medidas que as autoridades estão tomando, Adriana disse que São Paulo vai enfrentar um período mais difícil. “Agora vai depender muito do comportamento da população, da adesão da população, da compreensão da importância deste momento”. disse, ressaltando que a ciência está lidando com um inimigo desconhecido. “É muito importante que as pessoas fiquem em casa e dêem o tempo para que a ciência faça o seu trabalho e saiba combater esse inimigo”, alertou, “Aos poucos vamos poder liberar as pessoas com testes”, disse, lembrando que o SAS Brasil conseguiu acesso a 2 mil testes que serão aplicados na comunidade do Jardim Colombo. “Conforme as pessoas forem ganhando imunidade, vamos voltar à normalidade, mas o Brasil ainda precisa desse período, é muito importante”.

Colaborou: Laura Ramalho