Oxímetro em uso (imagem ilustrativa)

O jornal britânico Financial Times, um dos mais respeitados do mundo, destacou o trabalho realizado pelo SAS Brasil em favelas do Rio e de São Paulo em meio à pandemia do novo coronavírus em um texto intitulado Concern over ‘silent’ oxygen deprivation prompts new approach to virus (“Preocupação com privação ‘silenciosa’ de oxigênio leva a nova abordagem ao vírus”, em português). Em entrevista ao jornal, a médica Adriana Mallet, coordenadora de Saúde do SAS Brasil e do projeto de enfrentamento à covid-19, explica que a saturação do nível de oxigênio, importante medidor em casos de covid-19, caiu em metade dos até então 1,4 mil casos acompanhados pelo projeto.

O destaque foi feito pela jornalista Camilla Hodgson no texto publicado em 27 de maio, que menciona a preocupação de autoridades brasileiras com o que chama de “privação ‘silenciosa’ de oxigênio” entre pacientes. “Autoridades de saúde no Brasil estão ordenando que se faça o monitoramento em massa de (níveis de) oxigênio no sangue entre pacientes com coronavírus em função de uma crescente preocupação com níveis perigosamente baixos, mesmo que as pessoas tenham sintomas leves“, explica. “Com o Brasil dominado por um dos piores surtos do vírus no mundo e com o número de mortos que especialistas dizem poder estar chegando a 100 mil, serviços comunitários de saúde e ONGs de São Paulo e Rio de Janeiro começaram a monitorar os níveis de oxigênio entre os pacientes nas favelas das cidades“. Até a atualização mais recente feita ontem (2) pelo Ministério da Saúde, 31.199 pessoas haviam morrido por covid-19 no país.

Ainda segundo a reportagem, profissionais de saúde no Rio (depois de São Paulo fazer o mesmo) estariam mudando as orientações relacionadas à triagem de doentes de covid-19 com sintomas leves. Em vez de enviá-los para um isolamento domiciliar, devem passar a admiti-los nos hospitais. A repórter explica que a medida difere da que é adotada em países como EUA, Reino Unido ou França, nos quais os pacientes nos estágios iniciais da doença são aconselhados a manter-se em isolamento em casa.

Hipóxia ‘preocupante’

Em entrevista ao FT, o professor de virologia da Universidade de Kent Jeremy Rossman explica que a hipóxia (falta de oxigênio no sangue) silenciosa é “bastante preocupante“. Segundo ele, embora o isolamento em casa seja recomendado para reduzir o espalhamento do vírus, alguns casos graves da doença estão sendo “perdidos” até que seja tarde demais, quando os pacientes já estão criticamente doentes.

A repórter também entrevistou o infectologista Esper Kallas, da USP, que relatou que, desde meados de abril, as equipes do hospital universitário, onde atua, têm começado a notar a chegada de pessoas em estado avançado da doença. “A maioria (desses pacientes) não sabia que tinha hipóxia e não sentia falta de ar“, relata o médico ao FT. Segundo ele, no hospital do M’Boi Mirim, onde também trabalha, as pessoas estão morrendo cerca de dois dias após serem admitidas.

Destaque a oxímetros cedidos pelo SAS Brasil

Paciente usa oxímetro fornecido pelo SAS Brasil (foto: Roy Bento)

Em meio a esse contexto e com o que a jornalista chama de “desordem” no governo federal, com o presidente Jair Bolsonaro fazendo campanha contra restrições de governadores, a reportagem então destaca a atuação do SAS Brasil, que distribui oxímetros, aparelhos usados para fazer a medição do nível de oxigenação do sangue. “Um projeto está sendo testado pelo SAS Brasil, uma ONG de saúde que usa motociclistas para fornecer oxímetros em favelas de São Paulo e do Rio de Janeiro, às vezes deixando-os com os pacientes junto a um telefone celular, para que eles possam fazer várias medições por dia e compartilhar (os dados) com um médico“.

Adriana Mallet, do SAS Brasil, menciona então que “alguns pacientes nas favelas acham difícil entender o que as campanhas de saúde pública querem que eles façam e muitos deles têm medo de procurar ajuda e acabam chegando [aos serviços de saúde] quando é tarde demais“. Ela ainda acrescenta, na reportagem, que dar acesso a oxímetros é “essencial para impedir mortes evitáveis“.

Os oxímetros que o SAS Brasil distribui desde meados de maio nas favelas são aparelhos simples, geralmente usados em ambiente hospitalar ou clínico. Custam entre R$ 100 e R$ 200 (embora atualmente seja possível encontrá-los no mercado a exorbitantes R$ 500).

Segundo a médica Adriana, eles são deixados com pacientes avaliados como de alto risco por 3 a 5 dias, o que pode variar de acordo com a evolução do quadro da pessoa. O oxímetro faz parte de um kit que também inclui máscaras e álcool em gel e, ainda, quando é o caso, alguma medicação prescrita pelo médico do SAS Brasil.

“Essa medida foi implementada nas duas maiores comunidades que estamos atendendo (Jardim Colombo, em São Paulo, e Complexo do Alemão, no Rio)”, explica Adriana. “A decisão foi tomada diante do risco de baixa saturação de oxigênio silenciosa, quando o paciente não se percebe piorando”.

Caso você não tenha acesso ao Financial Times, leia a reportagem completa neste link, oferecido pelo site Outline.