Um espaço de saúde e alegria na Zona Norte de São Paulo

Na união de organizações sociais com os setores público e privado, nasce no bairro Carandiru um espaço onde saúde e alegria alcançam a população durante primeiro mutirão de saúde da mulher

Há 18 anos, Janete Rangel trava uma batalha constante contra a incontinência urinária. A condição, que começou durante a gestação de seu terceiro filho, tem ditado como a baiana tem vivido as últimas décadas de sua vida. “A mulher que tem incontinência urinária tem sua vida virada de cabeça para baixo. Sua autoestima acaba, você passa a ter medo de sair de casa, sua vida fica limitada”, comentou a mulher de 55 anos. 

Caracterizada pela perda involuntária da urina pela uretra, a incontinência urinária afeta 45% das mulheres acima de 40 anos, como revela a Sociedade Brasileira de Urologia. O impacto do diagnóstico vai além da questão biológica, afetando as relações interpessoais e até mesmo o trabalho de muitas mulheres. Esse é o caso de Janete, que já não trabalha mais por causa das dificuldades trazidas pela incontinência e outros problemas de saúde que se acumularam com o passar do tempo. 

Desde o diagnóstico de incontinência urinária precoce, a moradora da Zona Norte da capital paulista já passou por diversos tratamentos no Sistema Único de Saúde (SUS), como uso de medicação, realização de fisioterapia pélvica e, até mesmo, procedimento cirúrgico. Apesar de travar uma batalha constante nos últimos 18 anos, Janete ainda enxerga uma luz no fim do túnel. 

A esperança vem com um nome: Luz na Saúde, um mutirão de atendimento com foco na saúde da mulher. Com duas carretas adaptadas com consultório médico e tecnologia de ponta, tendas e muito acolhimento de voluntários, a ação realizada pelas organizações sociais SAS Brasil e Instituto Alok, convocou mulheres na fila de espera do SUS para passar pelo procedimento de laserterapia, um dos tratamentos mais modernos do mercado para a incontinência urinária.

Janete, foi uma das 100 mulheres convocadas para a ação. Emocionada após passar pela primeira sessão da laserterapia, a mulher compartilhou: “O mutirão foi uma benção. Eu perdi tanto tempo da minha vida com essa situação que quando me ligaram eu não acreditei”. A médica ginecologista, Débora Maranhão, responsável pela realização da laserterapia durante dois dias, ressaltou que o diferencial do procedimento é o impacto que ele traz. “Na primeira sessão a mulher já pode perceber alguns benefícios, com duas ou três sessões a qualidade de vida é completamente transformada”, destacou a médica após conduzir o procedimento.

Na primeira edição de quatro mutirões, o projeto realizou 95 procedimentos de laserterapias, reduzindo a pressão de uma fila com mais de 400 moradoras da Zona Norte que aguardam pela chance de tratar a incontinência urinária. A expedição médica que acontece com o apoio da Clínica Romana e Fotona, o patrocínio da Gaslive, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e apoio da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo seguirá convocando as mulheres da fila de espera do SUS e dando seguimento para as segunda e terceira aplicações de laser nas mulheres já atendidas. 

Para além da incontinência, a saúde integral da mulher

O impacto do Luz na Saúde vai além de trazer um tratamento de ponta para as mulheres que sofrem com a perda involuntária de urina. Nos dias de atendimento, também é realizada a consulta ginecológica para realização de exames, como o Papanicolau e o Cobas, essenciais para o rastreio organizado do câncer de colo do útero. 

Para as mulheres com mais de 40 anos que nunca fizeram a mamografia, não fazem há mais de um ano e não possuem próteses mamárias, a avenida Zachi Nachi também foi espaço para passar pela carreta de mamografia da Américas Amigas e garantir o cuidado com a saúde. Com o patrocínio da Roche Farma, entre os dias 21 a 30 de maio, foram realizados 544 exames de rastreio do câncer de mama e 43 ultrassonografias de mama. 

Aos 43 anos, a farmacêutica Janaína nunca havia realizado o exame de mamografia. Após ter um caso de câncer de mama confirmado na família, a paulista decidiu acender o alerta e realizar o exame. “O caso na família motivou até o compartilhamento com as colegas e amigas. Até porque, foi uma descoberta recente, e por isso o câncer está sendo vencido”, compartilhou Janaína ao finalizar seu atendimento. 

Assim como a farmacêutica, outras mulheres com 40 anos ou mais tiveram a oportunidade de realizar o exame para detecção do câncer de mama pela primeira vez. “Essa é uma idade estratégica para a prevenção e detecção precoce da doença. Uma vez que a mulher é diagnosticada na casa dos 40 anos, as chances de cura são altíssimas, e é isso que a gente espera”, afirma Anna Beatriz Leite, uma das médicas coordenadoras do projeto Luz na Saúde. 

Além do tratamento da incontinência urinária, rastreio do câncer de mama e atendimentos em psicologia, a ação também ofereceu triagem para câncer de pele e o teste Findrisc, que avalia as chances de uma pessoa desenvolver diabetes nos próximos 10 anos. “Sabendo que grande parte dos atendimentos seriam direcionados a pessoas que estão na fila de espera do SUS, o conjunto de ações foi pensado com o objetivo de motivar o máximo de pessoas possíveis, criando uma rede de mulheres engajadas e cuidado com a saúde a partir de diversos serviços”, afirmou a diretora médica da SAS Brasil, Adriana Mallet ao acompanhar o início dos atendimentos. 

O projeto Luz na Saúde

Idealizado pela SAS Brasil e pelo Instituto Alok, o projeto Luz na Saúde promove ações de saúde com foco em pessoas diagnosticadas com incontinência urinária, que estão na fila do SUS à espera de um tratamento. Além disso, os mutirões do projeto proporcionam ações de rastreio de câncer de mama e câncer de pele, exames preventivos, teste Findrisc e atendimento em psicologia.

A iniciativa teve sua primeira edição em agosto de 2023, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Neste ano, a segunda edição está sendo realizada com a população da Zona Norte de São Paulo, distribuída em quatro mutirões. Até fevereiro de 2025, outros três mutirões do Luz na Saúde serão realizados. O próximo está previsto para acontecer dentro de 60 dias.

Somente no primeiro mutirão em São Paulo, 644 mulheres foram atendidas, beneficiando mais de 1750 pessoas por meio dos 1.123 exames realizados. A expectativa é que até o ano que vem sejam realizados 4 mil exames de mamografia, procedimentos diagnósticos de punções e biópsias de mama, além de atender 1.500 pacientes na ginecologia, realizando cerca de 3.660 procedimentos.

 

Ana Beatriz Arruda & Júlia Batista