Agente Comunitário de Saúde: um trabalho para além da Atenção Básica
Saiba mais sobre o que fazem mais de 265 mil articuladores locais da Estratégia de Saúde da Família
Criado no início dos anos 90, o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) foi desenvolvido com uma única missão: promover atenção básica à saúde e aproximar a população dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, quase três décadas depois do início da iniciativa, é inimaginável colocar em prática as Estratégias de Saúde da Família sem a atuação dos Agentes Comunitários de Saúde.
No dia dedicado aqueles que aceitam a missão de contribuir para o acesso à saúde básica em suas comunidades, nada mais justo do que conhecer mais sobre a atuação dos ACS.
Um trabalho de acolhimento
Clarisse, mora em Celsolândia, um distrito do município de Acaraú, no Ceará. Trabalhando como Agente Comunitária há 18 anos, a cearense começa seu dia colocando a camisa da Secretaria de Saúde de Acaraú, uniforme que usa para visitar as casas das famílias de sua comunidade. A pé, Clarisse percorre sua região para cuidar de mais de xx pessoas, realizando o acolhimento de cada uma das demandas e realidades dos pacientes.
O trabalho veio pelo amor e vontade de ajudar o próximo. Quando a seletiva para ser ACS foi lançada quase duas décadas atrás, ela não pensou duas vezes em se inscrever e realizar um sonho que não era sobre ela, mas sobre todas as pessoas que poderia impactar. Além da identificação com o programa, Clarisse teve que realizar o curso de qualificação básica para ACS, assim como comprovar a conclusão do ensino fundamental, requisitos para quem deseja ser um ponto de referência para o acesso à saúde básica em sua comunidade.
Assim como a cearense foi chamada pela missão de ser ACS, outros 265 mil brasileiros são adeptas do programa ao longo do território. Cada um desses cidadãos atua diariamente realizando ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas, com dois principais objetivos: a prevenção de doenças e a promoção da saúde.
Realizando uma ponte entre a comunidade e o governo, o papel dos Agentes Comunitários de Saúde é singular, já que por serem membros da comunidade, permitem a criação de vínculos mais facilmente, facilitando a conexão entre o governo e a localidade. O contato direto com os ACS, impacta diretamente na relação da população com as Unidades Básicas de Saúde, já que eles são parte da equipe profissional necessária da atenção primária.
O papel dos Agentes Comunitários de Saúde é tão importante e tão singular, que de acordo com o Ministério da Saúde, hoje, a profissão de ACS é uma das mais estudadas pelas universidades de todo o país. Isso porque os Agentes Comunitários de Saúde conseguem intermediar a relação entre o governo e a comunidade, gerando maior interação entre os espaços.
Em uma palavra, o agente comunitário representa o elo entre a população e o cuidado contínuo da saúde. Pelo sim que muitos deram para dedicar muito mais do que oito horas do seu dia para o trabalho, vários são os depoimentos de pacientes que conseguem ter a assistência que precisam a partir de um olhar atento e cuidadoso desses agentes.
Na prática, como trabalham os ACS?
Com uma equipe definida de acordo com a base populacional, critérios demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos, cada Agente Comunitário de Saúde atende em média de 400 a 750 pessoas. Cada uma das famílias de responsabilidade do ACS deve ser visitada pelo ou menos uma vez por mês, contato que tem como objetivo:
- Identificar situações de risco e realizar encaminhamentos;
- Fazer acompanhamento das crianças, pesando, medindo, acompanhando a vacinação periódica, monitorando parasitoses e dermatoses, além de orientações para os responsáveis sobre cuidados gerais;
- Incentivar o aleitamento materno;
- Identificar gestantes e encaminhá-las para o pré-natal;
- Orientar as famílias sobre planejamento familiar e prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis;
- Realização atividades de prevenção e promoção da saúde do idoso;
- Fazer orientações sobre saúde da mulher, como a prevenção do câncer de mama e câncer de colo do útero, assim como a menopausa;
- Supervisionar os tratamentos de pessoas com doenças crônicas não transmissíveis;
- Identificar portadores de doenças psico-físicas.
Falar sobre o trabalho de um Agente de Saúde, é também falar sobre tudo aquilo que a gente não consegue ver estando deste lado da história: os bastidores de quem trabalha servindo ao outro. Mesmo com muito cuidado, zelo e amor, a caminhada nem sempre é fácil, afinal, muitas vezes o grande desafio é conseguir separar as demandas recebidas da comunidade da sua própria vida pessoal, já que ficam muito imersos na vida dos pacientes.
A ACS, que faz parte de um grupo de 120 Agentes Comunitários de Saúde de Acaraú, contou que uma das dificuldades que acompanham seu dia a dia é o fato de que o dia tem 24 horas, o que na maioria das vezes parece pouco para atender tantas famílias e indivíduos que são acompanhados pelos profissionais.
Mesmo diante dos desafios enfrentados por aqueles que dedicam sua vida para cuidar de suas comunidades, cada família cuidada pelas mãos dos Agentes de Saúde, tem a certeza de que no olhar, no abraço, no escutar, no estender a mão, eles podem encontrar o cuidado humanizado.