São 16 horas por dia. Fazia anos que eu não trabalhava 16 horas por dia. E não é porque é home office ou muleta para o momento: é porque existe propósito. Pensar no outro, olhar para o outro, entrar na casa de um desconhecido e sentir a dificuldade da vida da nossa sociedade, nem que seja pela tela do computador ou do celular, é essencial. É sentir a realidade da vida e fazer o caminho do respeito mútuo, levar dignidade mínima.

Conheça o projeto de telemedicina do SAS Brasil

A telemedicina não é uma invenção do SAS Brasil. É uma ferramenta e, como toda ferramenta, depende do objetivo de quem a maneja. Promover o acesso humanizado ao atendimento médico para quem precisa, de forma gratuita e digna, é o uso adequado para essa ferramenta. No SAS Brasil, mostramos como pode ser bem feito. Como a ferramenta pode trazer um resultado para além da relação médico-paciente. Com pouco mais de 9 mil atendimentos e zero óbito, já é possível dizer isso. Não que esse número se manterá para sempre, mas a composição de resultados entre acesso a saúde de qualidade, humanização da saúde e dignidade social é muito mais do que os números podem mostrar.

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Levar o SAS Brasil para a favela foi uma decisão muito simples, por um lado, porque é lá que a necessidade é maior nesse momento. Por outro lado, é muito complexa, porque estar aqui nunca mais sairá de nós e nós nunca mais sairemos de lá. O vínculo que se cria, a correspondência direta, e muito maior, entre o esforço e a melhoria de vida dos orgulhosos moradores das áreas mais precarizadas e subjugadas de nossa sociedade valoriza nossa atividade.

Faça uma doação para o nosso projeto

Ao tornar a telemedicina uma realidade para a população mais vulnerável nesse cenário de pandemia, salvamos vidas. Contabilizar as horas de trabalho das dezenas de voluntários, do pessoal da tecnologia, das 16 horas por dia, 7 dias por semana, das equipes de campo, das muitas centenas de doadores, é uma forma enviesada de olhar para esse projeto. A telemedicina não é apenas acesso a um médico ou psicólogo, é acesso à dignidade em forma de saúde. É entrar na casa das pessoas com humildade para ajudar e dar escuta. É promover a vida na área em que as pessoas são deixadas à sua própria sorte no deserto de alternativas.

Nosso esforço, nesse momento, não é apenas para levar saúde para as pessoas. É para demonstrar que existem jeitos de fazer saúde com acesso, com dignidade e com melhoria da qualidade de vida de forma gratuita e centralizada na solução integrada da pessoa. O suor de hoje, quando estamos só no começo, é para demonstrar que os nossos resultados podem ser para todos. Não temos tempo a perder, nem hoje, em momento de pandemia, nem depois, porque a bonança é para poucos e a miséria é para todos.

Os resultados do SAS Brasil nesse início de projeto são suficientes para mostrar para o que viemos às favelas das duas maiores cidades do país e uma das maiores capitais do Nordeste, por enquanto. Viemos para trazer dignidade para as pessoas, para trazer esperança, para escutar e aprender, para ajudar e educar. Por fim, isso produz saúde que, apoiada pela excelente atuação dos médicos e da equipe de campo, se torna uma chance de sobrevivência para quem nunca escolheu o abandono e a miséria a que estão submetidos.

É um desafio enorme fazer o que estamos fazendo. São horas e suor, cérebro e recursos. Muita gente, muito empenho e muito companheirismo em prol de um propósito. Mas que são compensadas em muito mais pelo carinho e pela vida que emana dos nossos amigos que nos convidam para suas casas e nos permitem compartilhar de suas dificuldades. Se é difícil trabalhar 16 horas por dia, 7 dias por semana? Pode parecer que é. Mas pergunte a você se é difícil viver a vida deles 24 horas por dia, 7 dias por semana por toda a vida.

Fazemos o que podemos: escutar e retornar dignidade humana, na forma de saúde.

Fotos: Roy Bento